Valentina e a princesa Monstrinha
- Maro Klein
- 28 de jul. de 2024
- 6 min de leitura
Atualizado: 29 de jul. de 2024

Valentina acordou no meio da madrugada com seu coraçãozinho batendo muito forte. Foi por causa de um trovão super barulhento que fez a casa toda tremer! Chovia há muitos dias. Valentina sentia muita falta do sol e de poder brincar no pátio.
Ela levantou-se e foi correndo até o quarto do papai e da mamãe, bateu no ombro deles, mas eles não acordaram, porque tinham trabalhado muito e estavam descansando em um sono muito pesado.
Então ela foi até o quarto do seu irmão mais velho, mas ele também não acordou, porque tinha ficado acordado até tarde jogando vídeo game.
Nisso, mais um trovão fez um barulhão no céu e Valentina voou de volta para seu quarto. Ela tremia todinha e começou até a sentir falta de ar.
- O que vou fazer agora?? - pensou - acho que preciso usar minha cachola! Já sei! Vou me esconder embaixo da cama – lá eu estarei protegida dessa tempestade!
E assim fez Valentina, deitando-se sob a sua cama cor-de-rosa.
Porém, mais de uma hora se passou e os trovões não diminuíam. Valentina ainda sentia muito medo e também começou a ficar bem entediada.
- Só me resta usar a minha imaginação! Já sei! Vou fazer de conta que as princesas virão me salvar!
Ela então chamou pela Branca de Neve. Mas nem na imaginação Branca de Neve apareceu, pois tinha cuidado de seus muitos filhos e sentido saudade de dormir o sono de maçã envenenada, foi descansar e não acordou de jeito nenhum.
Valentina chamou então pela Cinderela, mas ela estava muito distraída fazendo um tutorial de maquiagem na Internet para ir para a balada em busca do seu príncipe encantado.
Chamou por Rapunzel, mas ela também não veio, porque tinha ido ao cabelereiro fazer uma escova progressiva.
Sem conseguir ajuda, o medo de Valentina cresceu muito e ela começou a chorar:
- Meu Deus do céu! – pensou ela – será que alguém vai vir me salvar?!
Qual foi a sua surpresa quando, de repente, apareceu uma menininha correndo pelo quarto e entrando embaixo da cama com ela.
- Quem é você?! – perguntou Valentina.
- Eu sou a princesa Monstrinha!
- Princesa Monstrinha?! Como assim?!
Valentina olhou para a Princesa Monstrinha com olhos muito arregalados.
Ela não se parecia muito com uma princesa não. Ela vestia um jeans esfolado nos joelhos, acho que de tanto brincar. Sua camiseta tinha várias manchinhas; manchas de batom roubado de mãe, de canetinha, e tinha até um chiclé grudado nela! Seu cabelo também não era como das princesas normais: era ruivinho, curtinho e bagunçado, e parecia que ela mesma tinha passado a tesoura nele! Valentina logo concluiu:
- Eu acho que você não é uma princesa de verdade não!
- Sou sim! – retrucou Monstrinha.
- Não é não!
- É claro que eu sou! – insistiu – Todas as meninas são princesas e eu vou te ensinar como sair dessa cama! Para isso eu vou chamar o meu assistente e fiel escudeiro, Osíris! Mas você tem que repetir as palavras mágicas comigo para que ele apareça. Você está preparada?
- Sim!
- Vamos lá! Repita comigo:
Sim sim salabim! Whiskas sachê e cafuné, tragam agora o Osíris pra mim!
As duas meninas olharam a porta do quarto se abrindo lentamente, e viram umas patinhas deslizando pelo chão. Osíris era um gatinho cinza malhado muito peludo e gordinho.
Ele se deitou ao lado da penteadeira. Valentina não resistiu e quis logo ir fazer carinho no gato. Ela se esqueceu dos trovões, indo ao encontro dele.
Quando ela chegou perto, Osíris começou a ronronar bem alto. Monstrinha se aproximou dos dois e falou:
- Vou te mostrar como se faz!
Monstrinha esfregou seu nariz no nariz do felino, depois enfiou o nariz bem no meio da barriga gorda dele, que ficou feliz e ronronou mais alto ainda. Ela então disse para Valentina:
– Agora é a sua vez!
Valentina fez a mesma coisa e começou a rir e rolar pelo chão, de tanto deleite.
Enquanto isso, Monstrinha já tinha saltado para cima da cama, bagunçando tudo. Valentina foi também. Elas se deram as mãos e pularam até cansar. O Osíris ficou tranquilão em cima do travesseiro, lambendo as suas patinhas.
Então as duas tiveram fome. Foram até a cozinha e a Monstrinha foi abrindo todos os armários e pegando todas as coisas proibidas: comeram leite condensado na lata e manteiga misturada com açúcar, e até os bombons que a mamãe comia escondida elas acharam e comeram também.
Valentina ficou preocupada e com medo de ser castigada, mas Monstrinha falou:
- Não se preocupe! Eu tenho superpoderes e todas essas coisas vão voltar para o lugar, não vai ficar nenhum rastro, só eu e você vamos saber!
As duas riram muito.
Nisso, já era quase de manhã e Valentina falou:
- Monstrinha, eu estou preocupada, pois eu preciso dormir porque amanhã tenho que ir para a escola... e se essa tempestade não passar?
Monstrinha então falou:
- Valentina, você percebeu que tinha esquecido da tempestade enquanto a gente brincava?
- Puxa, é mesmo! Mas quando eu penso na tempestade sinto muito medo de novo!
- Então eu vou te ensinar outra mágica – disse Monstrinha – você confia em mim?
Valentina balançou a cabeça mostrando que sim.
- Eu quero que você feche os olhos agora e pense em coisas muito boas! - Disse Monstrinha.
- Mas quais coisas, por exemplo?!
- Pense em coisas que você gosta! Pense na barriga quentinha e peluda do Osíris... Em doce de leite... No seu livro preferido... Nos brinquedos da pracinha... No pudim que a sua avó faz... no seu estojo cor-de-rosa com glitter... Em pão quentinho de padaria! No abraço que o seu pai lhe dá! Consegue pensar em coisas assim?
- Acho que sim!
- Então, enquanto pensa nisso, feche os olhos e me dê a sua mão, eu tenho uma surpresa para você!
Valentina ficou pensando em muitas coisas boas, com os olhos fechados, e Monstrinha a levou pela mão até a janela que dava para o pátio da casa. Enquanto Valentina ainda pensava e se acalmava, Monstrinha abriu a janela e disse:
- Pode abrir seus olhos agora!
Valentina abriu os olhos e através da janela olhou o céu. Ele estava limpo! Sem nenhuma nuvem escura! Ela viu uma lua gigante e brilhante que iluminava tudo! A copa das árvores, o telhado do vizinho, o muro da sua casa... E até o Osíris, que, curioso, estava olhando para a lua também, sobre a soleira da janela.
Tudo estava em silêncio e em paz, sob a luz azul daquela lua enorme. Então Monstrinha disse:
- Valentina, é quase de dia, eu preciso ir.
Valentina ficou muito triste e falou:
- Mas e se eu sentir medo de novo, Monstrinha?
- Toda vez que você sentir medo, feche os olhos e pense nas coisas que você mais gosta. Você vai ver que o medo vai desaparecer novamente, na hora! Essa mágica nunca falha!
Valentina ainda estava triste por saber que Monstrinha teria que ir. Percebendo isso, ela lhe falou:
- Não fique triste, Valentina! Um dia, você vai passear por esse céu luminoso!
- Como assim?! - Disse Valentina, sem entender nada.
- Eu sei disso! – afirmou Monstrinha, com muita certeza - Você vai fazer coisas fabulosas! E não vai ter nenhum medo! Você vai ser conhecida por ser uma mulher desbravadora!
- O que é uma mulher desbravadora, Monstrinha? – perguntou Valentina.
- É como uma aventureira que não tem medo e sempre está pronta para aprender e conhecer lugares diferentes. Ela é forte e decidida, e mostra para todos que as meninas são muito valentes e podem fazer as coisas mais incríveis!
- É para valer isso Monstrinha?! Não é faz-de-conta? Isso é de verdade mesmo??
- É mesmo! Eu juro! Mas agora, volte para a sua cama e tente dormir. A tempestade já passou e eu e o Osíris precisamos ir embora.
- hááaaa – disse Valentina...
- Sim... eu sei, Valentina! Eu também não gosto quando as brincadeiras acabam! Mas acredite, muitas outras virão pela frente!
Valentina então voltou para a sua cama cor-de-rosa e caiu em um sono profundo. Só acordou quando sua mãe a sacudiu, pela manhã, para ela ir para a escola:
- Filha, acorda, já é dia!
Valentina estava muito sonolenta, mas abriu os olhos e ficou sentadinha na cama pensando:
- Deve ter sido tudo um sonho! Princesas Monstrinhas não existem!
Com muita preguiça, se levantou para escovar os dentes. Sua mãe voltou para seu quarto para lhe ajudar a arrumar a cama, já que Valentina continuava caindo de sono.
Quando voltou do banheiro para se vestir, escutou sua mãe dizer:
- Filha, a sua cama está cheia de pêlos de gato!! Como pode isso se não temos nenhum?? E o que é esse chiclé grudado na sua colcha?!
Valentina arregalou os olhos, e não conseguiu segurar uma gargalhada bem alta!
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Texto dedicado à minha astronauta Valentina, boa viagem!! Com amor, vovó.
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